Os horrores vividos no regime militar e a luta do movimento estudantil na década de 1970 permaneceram guardados na memória do engenheiro agrônomo e ex-estudante da UnB Antônio Ramaiana Ribeiro. As lembranças foram transformadas no livro UnB 1977 – o início do fim, no qual ele relata os momentos marcantes da história que ajudou a escrever.
“A geração de 70 viveu dentro do pesadelo e fez o sonho acontecer. A UnB foi um grande centro de resistência à ditadura”, aponta o autor. Na época, lembra Ramaiana, cerca de mil alunos foram expulsos e jubilados por perseguições políticas.
Três vezes preso e acusado de subversão, Ramaiana conheceu os porões da ditadura e sofreu os terrores da tortura psicológica. Os motivos para a detenção eram fúteis, como cantar músicas ou encenar peças teatrais censuradas pelo governo.
Hoje, aos 57 anos, o engenheiro relembra, com a voz embargada e os olhos lacrimejantes, a passagem mais marcante do livro: a primeira vez que viu o filho recém-nascido na cadeia. “Eu estava atrás das grades e sob fortes ameaças dos militares quando conheci Frederico. Ele tinha apenas 10 dias de vida e escolhi o nome em homenagem ao filósofo marxista Friedrich Engels”, conta.
PERSEGUIÇÃO E CENSURA - No livro, Antônio Ramaiana contextualiza a situação do país, os primeiros indícios de queda da ditadura e o papel dos jovens na transformação da sociedade. “Em 1977, o regime militar começou a desmontar por divergentes políticas internas entre os militares. Os estudantes foram às ruas para acabar com a perseguição e a censura”, destaca o ex-aluno da UnB.
Ramaiana lembra, ainda, que muitos pagaram o preço da mudança com a própria vida - como o jornalista Vladimir Herzog, assassinado em 1975 nas dependências do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Interna).
“As pessoas que tiveram coragem de enfrentar o sistema e quiseram fazer a história pagaram o preço com a dor. Tudo era proibido. Você levava porrada e ia para a cadeia”, comenta o autor. Ele afirma que 60% dos presos políticos na época eram jovens e que entre os 350 assassinados ou desparecidos durante o regime, mais da metade tinha idade entre 22 e 25 anos. “Os estudantes surgiram como porta-vozes da sociedade. Havia um objetivo bem definido que era acabar com a ditadura”, ressalta.
Na cadeia, os presos políticos se deparavam com a violência e as ameaças de morte constantes. “O pior é a dúvida e ficar esperando a tortura a qualquer momento”, diz Ramaiana. Ele relata que a primeira vez que foi preso não sabia sequer o motivo e foi levado por policiais em um fusca amarelo com uma placa fria. “Quando cheguei à carceragem da Polícia Federal, senti alívio por estar vivo”, relembra. Para o autor, a participação política da juventude de 1977 é pouco lembrada, e o livro cumpre o papel de imortalizar os relatos de luta e dor.
MEMÓRIA - DIA NACIONAL DE LUTA
Com documentos, fotos e matérias que saíram na imprensa, Ramaiana relata a reorganização do movimento estudantil desde 1976, que eclodiu com um manifesto em todo o país: o Dia Nacional de Luta contra Prisões Arbitrárias, em 19 de maio de 1977.
Naquele dia, o cenário na UnB era de repressão, com o capitão de mar e guerra José Carlos Azevedo à frente da Reitoria. Ele puniu os estudantes por participarem do protesto e, em resposta, foi decretada uma greve dos alunos exigindo o fim das punições e a saída do reitor.
A paralisação se estendeu por quatro meses, gerando repercussão nacional e se consolidando como um dos mais fortes movimentos políticos desde 1968.
Fonte: http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=1761
Então pessoal, se vocês fossem dessa época, iriam participar do movimento contra a ditadura? Medo de serem presos, torturados e ameaçados de morte influenciariam na participação do movimento? Ou o mais importante seria o fim da ditadura custe o que custasse? Opine no nosso blog! Até a próxima!!!
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